13 de abril de 2024

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Dia Nacional da Consciência Negra #VidasNegrasImportam

Marcelo de Toledo – São Paulo, SP
22/11/2020 12:00

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado, no Brasil, em 20 de novembro. A data foi escolhida por coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, um dos maiores líderes negros do Brasil que lutou pela libertação do povo contra o sistema escravista.

No dia especialmente dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, impossível não expressar a indignação com o caso ocorrido em Porto Alegre. Um homem negro foi espancado e morto por dois homens brancos em um supermercado Carrefour em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

REAÇÃO

Como o que temos visto em outros episódios nos Estados Unidos da Améria, o espancamento de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi filmado por testemunhas e estes vídeos se espalharam pelo mundo.

No Brasil, grupos em vários Estados começaram a se organizar para promover manifestos contra o ocorrido, fora do Brasil movimentos como o “Black Lives Matter” defendeu neste sábado (21) os protestos de brasileiros contra a morte de João Alberto Silveira Freitas

Em um post no Twitter, o movimento “4 Black Lives” afirmou: “Somos solidários às pessoas que protestam no Brasil depois que João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos, foi assassinado por seguranças do supermercado Carrefour, sendo um deles um policial militar de folga.” A mensagem foi repostada pelo “Black Lives Matter” com uma mensagem de apoio e a hashtag em português: #VidasNegrasImportam

Na publicação inicial, o movimento colocou uma imagem que convoca pessoas do mundo inteiro a boicotar o Carrefour, supermercado onde aconteceram as agressões. É uma rede francesa, com lojas no mundo todo, portanto os movimentos negros estão pedindo esse boicote mundial, reforçado agora pelo “”Black Lives Matter”, organização que ganhou força após a morte de George Floyd nos Estados Unidos.

A Organização das Nações Unidas (ONU) disse em um comunicado que “a violenta morte de João, às vésperas da data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira”.

SUSPEITOS

Os dois seguranças tiveram prisão preventiva decretada. O policial militar Giovani Gaspar da Silva, de 24 anos, foi levado para um presídio militar. Magno Braz Borges, de 30 anos, segurança da loja, está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.

CARREFOUR

O Carrefour chamou o ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com empresa Vector Segurança que ‘responde pelos seguranças que cometeram a agressão’. A Vector Segurança, disse em nota que “se sensibiliza com os familiares da vítima e não tolera nenhum tipo de violência” e “iniciou os procedimentos para apuração interna”.

No Twitter, o presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou que “meus valores e os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência”, ressaltando ainda que as imagens da agressão “são insuportáveis”.

Em 21/11/2020 por volta das 21h, em canais de TV aberta, o CEO do Carrefour Brasil, Noel Prioux, divulgou em vídeo um comunicado onde ele lamentou a morte de João Alberto Silveira Freitas.

“O que aconteceu na loja do Carrefour foi uma tragédia de dimensões incalculáveis, cuja extensão está além da minha compreensão como homem branco e privilegiado que sou. Antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto. E meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e a nossos colaboradores”, disse Noel.

“Se uma crise como essa está acontecendo conosco é porque temos a responsabilidade de mudar isso na sociedade. A morte de João Alberto não pode passar em vão”, acrescentou.

O vídeo também contou com a presença de João Senise, vice-presidente de Recursos Humanos da companhia, que afirmou que mais da metade dos funcionários do Carrefour Brasil são negros ou negras, mas avaliou que mais ações de diversidade são necessárias.

“O que aconteceu em nossa loja não representa quem somos e nem os nossos valores. 57% dos nossos funcionários são negros e negras. E mais de um terço dos gestores se declaram pretos ou pardos. Mas não é o bastante. Precisamos de mais ações concretas e efetivas para maior promoção da diversidade”, disse.

GOVERNO

Presidente
*Bolsonaro disse na reunião da cúpula do G-20, logo no início da fala aos líderes das economias mais ricas do mundo:

— Antes de adentrarmos o tema principal desta sessão, quero fazer uma rápida defesa do caráter nacional brasileiro em face das tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa História. O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado — discursou Bolsonaro.

Ele continuou, argumentando que a diversidade do país “conquistou a simpatia do mundo”:

— Contudo, há quem queira destruí-la (a diversidade), e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de “luta por igualdade” ou “justiça social”. Tudo em busca de poder.

Ao G-20, Bolsonaro disse ainda que, “como homem e como presidente”, enxerga todos os brasileiros com as cores “verde e amarelo” e que “não existe uma cor de pele melhor do que as outras”. Segundo ele, existem “homens bons e homens maus”.
*Fonte: www.oglobo.globo.com

Vice-presidente
O vice-presidente Hamilton Mourão disse que não existe racismo no Brasil e ainda afirmou que é “uma coisa que querem importar”.

Senado Federal
*Nesta sexta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, muitos senadores usaram as redes sociais na internet para lembrar a data e a importância da luta contra a desigualdade racial e o racismo no Brasil. Parlamentares defenderam a educação como arma contra o preconceito racial e condenaram o episódio violento ocorrido dentro de um supermercado no Rio Grande do Sul, que levou à morte de um homem negro a pauladas, nesta quinta-feira (19), véspera da data.
*Fonte: Agência Senado

*Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou “o peso da lei” para punir quem promove o ódio e o racismo. Ele prestou solidariedade à família e aos amigos de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, morto após ser espancado por seguranças da rede de supermercados Carrefour em Porto Alegre (RS).
*Fonte: Agência Câmara de Notícias

PROTESTOS

RS
Um protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, reuniu cerca de 2,5 mil pessoas, segundo estimativa da Guarda Municipal, no final da tarde do dia 20/11/2020 na zona norte de Porto Alegre (RS).

Após um início pacífico, um grupo de cerca de 50 pessoas tentou invadir o supermercado, que estava fechado. A Brigada Militar ocupou o interior do estabelecimento e passou a jogar bombas para afastar os manifestantes do portão, que acabou danificado. Uma pessoa conseguiu invadir e pichou a fachada do prédio. Outros colocaram fogo em materiais.

SP
Manifestantes invadiram a loja do Carrefour, localizada dentro de um shopping na Rua Pamplona, em São Paulo, durante protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas. A 17ª marcha do Movimento Negro Unificado, que já ocorreria por conta da data em que se comemora o dia de Zumbi, teve seu trajeto alterado.

Em vez de ir ao Teatro Municipal como de costume, a marcha se dirigiu à unidade do Carrefour, que fica próxima à Avenida Paulista. Um grupo de manifestantes depredou a fachada do shopping e quebrou vidraças da loja e da escada rolante. Sob ordens de “não é para saquear”, eles entraram no supermercado, que estava fechado com portão de ferro, e jogaram pedras e potes de tinta dentro e fora da loja. Algumas pedras chegaram a atingir o terceiro andar do centro de compras. Um princípio de incêndio também foi rapidamente controlado pela Brigada de Incêndio. Clientes que estavam no local ficaram assustados. Ninguém se machucou no episódio.

Participaram do protesto várias entidades ligadas ao CONEN (Coordenação Nacional de Entidades Negras do Brasil).

MG
Em Belo Horizonte houve protestos em duas redes do supermercado, um dentro de um shopping center e outro em uma unidade do centro.

RJ
No Rio de Janeiro, o protesto ocorreu em uma unidade na Barra da Tijuca, onde os manifestantes gritavam “assassinos” e “vidas negras importam”.

PR
Curitiba também registrou atos no fim da tarde de 20/11/2020.

PE
No Recife, grupo invadiu uma loja Carrefour em 20/11/2020.

Em 21/11/2020 manifestantes protestaram em frente a uma loja do grupo Carrefour no bairro de Boa Viagem. A Polícia Militar de Pernambuco usou spray de pimenta para dispersar a manifestação. Uma mulher foi detida. Organizadores do protesto acusam a PM de truculência.

“É importante ressaltar que as Forças de Segurança em Pernambuco estão unidas à sociedade no combate ao racismo e à intolerância de qualquer natureza. E sempre resguardarão o direito à liberdade de expressão e à manifestação do pensamento, afirma a PM.

OPINIÃO

Manifestações devem ocorrer por motivos e de forma bem definida para alcançar seus objetivos, cabe aos grupos se organizarem, encontrarem um líder independente se é de direita ou de esquerda desde que busquem alternativas para acabar com a desigualdade de forma ordeira, respeitando as leis e as pessoas, tanto físicas como jurídicas. Destruir patrimônio é vandalismo e não ato de repudio, um crime não justifica outro.

Da mesma forma e sob a mesma ótica, policiais devem manter a ordem sem transigir quanto à firmeza, dentro da legalidade e da técnica, para preservar a ordem pública, o direito de ir e vir das pessoas, a proteção do patrimônio e da vida.

Como mudar esta situação?

A educação tem um papel crucial na perpetuação e no combate ao racismo no país diz a antropóloga Marina Mello.

“A escola deve desconstruir o ideal do homem europeu e cristão perfeito, naturalmente superior, exemplo do bem, da beleza e da verdade.”

“Porque esta lógica implica que todos os outros seres, classificados como amarelos, vermelhos ou pretos, têm sua humanidade diminuída, imperfeita, o que justificaria a sua dominação, exploração e até mesmo a sua morte.”

*A educação também foi apontada pela senadora Leila Barros (PSB-DF) como forma de combater a ideia de uma democracia racial no país, que nega a existência do racismo entre os brasileiros.
*Fonte: Agência Senado

Caro leitor, PAIDEIA Online é um esforço teórico de pensar a totalidade do fenômeno educacional, um fenômeno que inclui o cultural, o econômico, o político e o social. Buscamos divulgar notícias com equidade ou seja, imparcialidade. Para que o objetivo seja alcançado é imprescindível a colaboração do leitor através de comentários, críticas e sugestões.

Se possível, colabore compartilhando seu pensamento a respeito deste assunto, segue abaixo algumas questões que poderia responder:

Existe discrimição racial no país?

Nossos governantes tem a mesma visão que você?

Devemos boicotar o Carrefour?

Estamos vivendo uma onda que começou nos EUA?

Acredita em uma solução?

Qual?

Marcelo de Toledo
Colunista PAIDEIA Online.

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